Segunda, 03 de Novembro de 2025

Em igreja na Penha, fiéis rezam por paz e proteção em semana de horror

Orações se estendem também às famílias dos mortos em operação policial

02/11/2025 às 15h00
Por: Redação Fonte: Agência Brasil
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© Tânia Rêgo/Agência Brasil
© Tânia Rêgo/Agência Brasil

No bairro da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, fiéis foram à Paróquia Bom Jesus da Penha para rezar pelos entes queridos neste Dia de Finados. As orações se estenderam também às famílias dos 121 mortos na Operação Contenção , realizada em favelas vizinhas na última terça-feira (28) e considerada a maior e mais letal do Rio de Janeiro.

“Todos que vêm, sejam mães, familiares, amigos, nesse momento de dor, nós temos acolhido, rezado e intercedido por essas pessoas”, diz o padre Marcos Vinícius Aleixo, que celebrou missa neste domingo (2).

Segundo ele, as pessoas estão com medo e até mesmo a frequência nas missas diminuiu . “A insegurança reina no bairro por conta disso. Muitas pessoas ficam com medo de sair de casa, com medo de vir até a missa”, diz.

“O tiro, o barulho, isso tudo traz traumas, traz crise de ansiedade, traz medo às pessoas que lá dentro moram, que são pessoas de bem e que estão ali lutando para viver, muitas vezes, porque não tem outra oportunidade de sair dali, mas são pessoas de bem, são pessoas que honestamente trabalham e têm a sua vivência diária”, acrescenta o padre.

A igreja fica a um quilômetro (Km) da Praça São Lucas, onde foram reunidos corpos retirados de uma área mata entre os complexos do Alemão e da Penha na madrugada depois da operação policial . Segundo a Secretaria de Pública do Rio de Janeiro, 121 pessoas foram mortas, dentre elas, quatro policiais e 117 civis. A operação cumpriu 20 dos 100 mandados de prisão emitidos pela justiça e incluía também 180 mandados de busca e apreensão. Outras 93 pessoas foram presas em flagrante. O alvo da operação era o Comando Vermelho, que controla o território.

Entre o crime organizado e operações policiais, a população se vê encurralada, de acordo com uma moradora do bairro, que não quis se identificar. “A gente não tem sossego. [A operação] Afeta. Claro que afeta, principalmente porque você tá encurralada”, diz.

No dia a dia, ela diz que tem dificuldades para ir e vir por conta do crime organizado. “Atrapalha até as ruas, as pessoas não podem passar. Ficam cobrando até pedágio. Isso não existe, gente”, diz. “É tranquilidade que eu cobro. A minha cobrança é essa. Porque a gente não tem mais paz, não tem sossego. Você vai pedir um Uber, o Uber não quer entrar aqui porque está na Penha. Olha que absurdo”.

A operação sofreu diversas críticas, sobretudo por indícios de abuso de poder por parte dos policiais, por organizações nacionais e internacionais, como o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU) . Além disso, famílias dizem que encontraram marcas de tortura nos corpos dos parentes mortos e afirmam que têm provas de que eles tentaram se entregar. Por outro lado, o governo do estado afirma que aqueles que se entregaram foram presos , e que as pessoas que foram mortas entraram em conflito com os agentes.

Para outro morador, que não quis se identificar, a operação dá uma sensação de que algo está sendo feito. “O Rio de Janeiro todo está meio largado em questão de segurança. Isso [a operação], de uma certa forma, acaba trazendo uma sensação de que estão fazendo algo, né? Porque são dois lados. Ninguém é bonzinho”, diz.

Uma moradora que estava no complexo da Penha durante a operação diz que foi um dia de horror. “Foi muito ruim para nós, porque impactou a vida de muita gente, dos moradores, das crianças, foi muito tiroteio. E isso é ruim para quem não tem envolvimento com nada, pra gente que é morador, pessoas de bem”.

Perguntada se acredita que algo muda com a operação policial, ela é taxativa: “Nada”.

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