Um estudo recente conduzido por pesquisadores da Universidade de Hong Kong revelou que o uso crônico de telas prejudica a neuroplasticidade das crianças, o que compromete a formação e reorganização de redes neurais do cérebro.
De acordo com a pesquisa, compartilhada pela revista Superinteressante, não há um limite seguro, em horas diárias, para o uso de mídias digitais pelas crianças. A pesquisa analisou 33 estudos clínicos, com mais de 30 mil crianças.
Renata Aguilar, diretora pedagógica do Super Cérebro, método de desenvolvimento integral de crianças, jovens e adultos, ressalta que o Brasil tem se destacado como um país com um consumo excessivo de telas e dispositivos eletrônicos.
“Fatores sociais, econômicos e culturais influenciam muito esse aspecto. O entretenimento nas redes sociais tem se tornado cada vez mais frequente entre as famílias, com pais conversando com seus filhos por meio dos eletrônicos dentro da própria casa”, observa.
Aguilar destaca que, com a pandemia, esse hábito se intensificou - e o que antes era proibido passou a ser um recurso obrigatório em algumas escolas.
“Outro fator preocupante é a rápida propagação de informações superficiais e fake news. Nosso cérebro é curioso; músicas, imagens e vídeos com menos de 1 minuto viralizam rapidamente”, pontua. “Além disso, a busca por trabalho digital na ilusão de altos ganhos também pode influenciar esse cenário”, complementa.
Aguilar acredita que o uso excessivo de telas pode levar à diminuição da atenção e da concentração, à sensação de gratificação momentânea e a impactos negativos na memória e na atenção. Além disso, pode resultar em dificuldades de relacionamento e desempenho acadêmico, problemas de sono e alimentares, pois as crianças podem comer mais ou menos do que deveriam devido ao tempo excessivo em dispositivos.
“Esse uso em demasia também pode gerar dependência de validação externa. O consumo em excesso prejudica a linguagem, a criatividade e a tomada de decisões, além de dificultar os relacionamentos entre pares”, articula. “Os fatores socioemocionais também são impactados, manifestando-se por meio da comparação constante, da busca por padrões de beleza e de relacionamentos superficiais”, completa.
Fenômeno desafia as famílias do país
O Brasil é um dos países com o maior tempo de uso de telas: em média, os brasileiros passam nove horas por dia na Internet, conforme balanço repercutido pela Secretaria de Políticas Digitais (Secom).
Em 2022, 92% da população com idade entre 9 e 17 anos era usuária de internet no país, sendo o celular o dispositivo mais usado por crianças e adolescentes, segundo dados da pesquisa TIC Kids Online, do Comitê Gestor da Internet no Brasil, também compartilhado pela Secom.
A diretora pedagógica do Super Cérebro ressalta que diversos fatores contribuem para o uso exagerado de telas: “A rotina repleta de tarefas, o trabalho excessivo e o pouco tempo para interação entre pares facilitam o acesso às redes sociais”. Aliás, a TIC Kids Online indica que 86% dos usuários de 9 a 17 anos e 96% dos usuários de 15 a 17 anos têm ao menos um perfil em redes sociais.
“Os aplicativos e plataformas estão se tornando cada vez mais atraentes, com estímulos visuais e auditivos que cativam nossas crianças e jovens, além de promoverem uma rápida busca pelo sistema de recompensa”, acrescenta a diretora.
Aguilar também destaca que as telas trazem uma sensação momentânea de bem-estar, liberando substâncias no cérebro, como a dopamina, que está ligada ao prazer. “A falta de acesso a essas telas desencadeia a necessidade de uma nova dose, criando um ciclo vicioso que se torna cada vez mais necessário”.
Estratégias podem ajudar
Aguilar conta que determinados hábitos podem ser adotados pelas famílias e crianças para evitar o uso excessivo de telas, como propor atividades em família que sejam prazerosas, como cozinhar juntos, contar histórias e brincar com jogos de tabuleiro.
“Vale investir em experiências como organizar os brinquedos, realizar atividades artísticas, como pintura, fazer uma exposição de desenhos feitos pela família ou, até mesmo, brincar de adivinhar com mímicas de músicas e filmes”, exemplifica.
Ela também ressalta que de nada adianta querer tirar os filhos das telas se os pais também não se desconectam. “Estabelecer limites para o uso de telas e reduzi-los gradualmente é uma estratégia eficaz, usando aplicativos que ajudam a monitorar e restringir o tempo de uso. A educação digital é uma excelente alternativa para enfrentar esse desafio”, diz.
Metodologia visa o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais
Aguilar conta que, em um panorama de uso excessivo de telas, a metodologia Super Cérebro adota uma abordagem com foco no desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais. Para tanto, o programa utiliza atividades e ferramentas que estimulam as funções executivas, como planejamento, organização, memória, flexibilidade cognitiva e trabalho em equipe.
“Essas habilidades são sempre contextualizadas com as inteligências múltiplas de Howard Gardner. Com o uso do Soroban e de jogos de tabuleiro, promovemos o aprimoramento de aspectos que oferecem benefícios exatamente nas áreas que a sociedade mais valoriza”, explica.
Para mais informações, basta acessar: https://supercerebro.com.br/
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