Terça, 16 de Dezembro de 2025

Busca por ressignificação do corpo cresce no Brasil

Estudos nacionais e internacionais indicam aumento da procura por práticas de ressignificação corporal e reconstrução da autoestima no Brasil em 20...

16/12/2025 às 09h12
Por: Redação Fonte: Agência Dino
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A busca por práticas de ressignificação do corpo e reconstrução da autoestima ganha espaço no Brasil em 2025, em um contexto em que saúde mental e bem-estar se tornam temas centrais no debate público. Relatório recente da OPAS/OMS aponta que mais de um bilhão de pessoas vivem com condições relacionadas à saúde mental no mundo, reforçando a necessidade de estratégias de cuidado que combinem suporte clínico, redes sociais e formas de expressão individual.

Pesquisas com recorte brasileiro mostram que esse cenário também se reflete na percepção de bem-estar de diferentes faixas etárias. Um estudo longitudinal com adolescentes, disponibilizado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, indica aumento de dificuldades emocionais durante e após a pandemia, com impacto na forma como jovens avaliam a própria saúde e o próprio corpo. Os autores destacam que fatores como autoimagem e apoio social interferem diretamente na adaptação a períodos de crise.

A relação entre autoestima e imagem corporal vem sendo explorada em diferentes estudos. Pesquisa publicada na revista Paideia, disponível na base SciELO, mostra que a autoestima é um dos principais preditores de apreciação corporal em meninas brasileiras, sugerindo que a forma como indivíduos se percebem influencia a maneira como se relacionam com o corpo. Outro trabalho, também acessível na plataforma SciELO, associa níveis mais baixos de autoestima a pior autoavaliação de saúde em adolescentes, reforçando o vínculo entre dimensão emocional e percepção física.

Ao mesmo tempo, o mercado de estética e bem-estar registra crescimento consistente. Levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) indica aumento no faturamento do setor de saúde, beleza e bem-estar, impulsionado por serviços voltados ao cuidado pessoal e à melhoria da qualidade de vida. Reportagem da ESPM, com base em dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), aponta que o Brasil segue entre os países que mais realizam procedimentos estéticos no mundo, com crescimento expressivo de intervenções associadas à imagem e à autoestima.

Outras análises de mercado reforçam essa tendência. Matéria da Leitura Estratégica destaca que o segmento de estética movimenta bilhões de reais e projeta expansão nos próximos anos, enquanto levantamento divulgado pelo Congresso Estetika, com dados do Sebrae, mostra crescimento expressivo no número de microempreendedores individuais na área de beleza e estética. Análise publicada pela empresa SeringasR projeta que o setor brasileiro de estética pode atingir quase 10 bilhões de dólares em valor de mercado até 2030, reforçando a consolidação da demanda por serviços ligados à aparência e ao bem-estar.

Dentro desse conjunto de práticas, a tatuagem aparece como um dos recursos buscados por pessoas que desejam atribuir novos significados ao próprio corpo. Pesquisa recente do Pew Research Center aponta que, entre pessoas tatuadas, motivos como homenagear alguém, marcar experiências importantes e expressar identidade estão entre as principais razões relatadas. Embora o estudo tenha foco na população norte-americana, os dados ajudam a compreender um fenômeno observado em diferentes contextos: a tatuagem frequentemente está associada à memória, à biografia e à reconstrução simbólica.

Resultados semelhantes aparecem em estudos científicos revisados por pares. Artigo disponível no National Institutes of Health (NIH) indica que muitas pessoas buscam tatuagens para se sentirem melhor consigo mesmas, reforçar senso de individualidade ou simbolizar transições pessoais significativas. Síntese publicada na revista Psychology Today aponta que motivos emocionais e identitários — como marcar recomeços, superar experiências difíceis ou ressignificar narrativas pessoais — estão no centro das decisões de quem escolhe se tatuar.

No Brasil, artistas especializados em técnicas de realismo, cor e cobertura de marcas corporais relatam aumento na procura por projetos ligados à ressignificação do corpo. Nesse contexto, profissionais que trabalham com cicatrizes, antigas tatuagens e áreas sensíveis observam que a decisão de tatuar uma região marcada muitas vezes está associada a um processo psicológico anterior. Segundo Charbelle Lopes Mousinho, artista tatuadora e autora de livro sobre tatuagem e autoestima, a demanda reflete um movimento mais amplo de reorganização da relação com o próprio corpo. "Ressignificar o corpo é um processo emocional ligado à identidade, memória e pertencimento", afirma. Para ela, a tatuagem com finalidade simbólica costuma ser planejada ao longo do tempo, em diálogo com a história de cada pessoa.

Estudos publicados pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) indicam que práticas de autocuidado e expressão pessoal não substituem acompanhamento clínico, mas podem atuar como estratégias complementares de bem-estar emocional.

Pesquisas acadêmicas disponíveis na base SciELO, que analisam a relação entre autoestima, percepção corporal e saúde, apontam que intervenções simbólicas e expressivas podem contribuir para processos de recomposição da autoestima quando associadas a cuidados formais em saúde mental.

Com a continuidade dos estudos em saúde mental, o crescimento do mercado de estética e a ampliação do debate sobre imagem corporal, a expectativa é de que a ressignificação do corpo permaneça em evidência nos próximos anos. A tatuagem, nesse contexto, integra um conjunto de escolhas que vão além do visual imediato e passam a ser entendidas como parte de um processo mais amplo de reconstrução emocional, busca por pertencimento e fortalecimento da autoestima.

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