Quarta, 27 de Agosto de 2025

Comissão de Esporte celebra legado da atleta olímpica Aída dos Santos

A trajetória de Aída dos Santos Menezes foi tema de audiência pública da Comissão de Esporte (CEsp) nesta quarta-feira (27). Ela recebeu um voto de...

27/08/2025 às 13h26
Por: Redação Fonte: Agência Senado
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Autora do voto de louvor, a presidente da CEsp, Leila Barros, entregou flores e uma placa de homenagem a Aída dos Santos - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
Autora do voto de louvor, a presidente da CEsp, Leila Barros, entregou flores e uma placa de homenagem a Aída dos Santos - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado

A trajetória de Aída dos Santos Menezes foi tema de audiência pública da Comissão de Esporte (CEsp) nesta quarta-feira (27). Ela recebeu um voto de louvor do colegiado e compartilhou sua história. Pioneira, foi a única mulher da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 1964, quando competiu sem técnico, uniforme adequado ou apoio institucional. Ainda assim, alcançou o quarto lugar no salto em altura — melhor resultado feminino do Brasil em todas as modalidades olímpicas por mais de três décadas.

Autora do requerimento aprovado para a concessão do voto de louvor ( REQ 35/2025 - CEsp ), a senadora Leila Barros (PDT-DF) destacou que a história de Aída dos Santos é marcada pela resistência.

— Aída venceu barreiras sociais, econômicas e raciais. Sua conquista em Tóquio foi extraordinária, pois competiu sem estrutura e, mesmo assim, alcançou um feito histórico. Sua vida nos mostra a força da resiliência, do talento e da coragem — afirmou a senadora.

Durante a reunião, Leila Barros entregou uma placa de homenagem para ressaltar o legado da atleta: “Referência de excelência e superação, inspirando o desenvolvimento do esporte no Brasil e as lutas pela igualdade racial e de gênero”.

Desafios

Ao agradecer a homenagem, Aída dos Santos recordou os desafios enfrentados. Contou que viajou aos jogos olímpicos sem uniforme oficial, competiu sozinha e teve que improvisar roupas e calçados.

— Disseram que eu não iria nem aparecer na final. Aquilo me deu força. Usei uma saia e uma blusa emprestadas, e depois consegui um tênis de corrida para competir. Foi muito sofrimento, mas também uma vitória da persistência. Eu queria mostrar que, mesmo sem condições, poderia representar o Brasil.

Ela lembrou também o isolamento vivido durante os Jogos e a falta de apoio.

— Quando cheguei à Vila Olímpica, me vi sozinha. Não tinha técnico, não tinha médico, não tinha uniforme. Eu mesma procurei uma pista para treinar e pedi ajuda a atletas de outros países. Aquela solidão foi dura, mas também me ensinou a acreditar em mim. Eu dizia para mim mesma: 'vou provar que consigo' — relatou.

Diante das dificuldades, o resultado surpreendeu.

— Na final, saltei 1,74m e fiquei em quarto lugar. Ninguém acreditava que eu pudesse chegar tão longe. Até hoje guardo essa conquista como símbolo da coragem que o esporte exige. Não tive medalha, mas tive reconhecimento e a certeza de que minha luta valeu a pena — afirmou.

Legado

Além das conquistas no atletismo, com medalhas em Jogos Pan-Americanos (Winnipeg, 1967, e Cali, 1971), Aída dos Santos se dedicou à carreira acadêmica. Formou-se em geografia, pedagogia e educação física e atuou como professora universitária para formar atletas e educadores.

Por sua trajetória, Aída recebeu reconhecimentos diversos, como o Troféu Adhemar Ferreira da Silva, do Comitê Olímpico Brasileiro, e o Diploma Mundial Mulher e Esporte, do Comitê Olímpico Internacional.

O presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, Wlamir Motta Campos, disse na audiência pública que Aída "transcende os limites do esporte".

— Dona Aída representa tudo o que esperamos do esporte. Mais do que uma referência, é inspiração. Mulher negra, de origem humilde, que enfrentou preconceitos e fez história em 1964. Aos 88 anos, segue iluminando gerações — declarou.

Filha campeã olímpica

Valeska dos Santos Menezes, medalhista olímpica — ouro no vôlei feminino em 2008, entre outros títulos — e representante da Comissão Mulher no Esporte do Comitê Olímpico do Brasil, destacou que a grandeza da mãe vai muito além dos resultados nas pistas.

— Falar da minha mãe é falar de coragem. Uma menina que saiu de uma comunidade em Niterói e saltou mais alto que o destino dizia. Sem técnico, sem uniforme, sem médico, sozinha, conseguiu ser a única mulher da delegação em Tóquio e alcançar o quarto lugar. Enquanto o mundo duvidava, ela mostrou que podia — declarou.

Ela reconheceu o papel da mãe ao incentivar sua própria trajetória.

— Mais do que um salto, foi um grito, um ato de fé. Como filha, vejo a mãe que sempre nos ensinou a não desistir, e como atleta, vejo o símbolo de resistência que nunca deixou sua história ser esquecida. Ela me inspira todos os dias e me faz acreditar que podemos voar cada vez mais alto — disse.

A audiência pública da CEsp contou ainda com a participação da secretária Nacional de Excelência Esportiva (do Ministério do Esporte), Iziane Castro Marques, e da representante do Ministério das Mulheres, Lucimara Cardozo.

Aída dos Santos compartilhou sua trajetória olímpica na audiência pública: legado esportivo e acadêmico - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
Aída dos Santos compartilhou sua trajetória olímpica na audiência pública: legado esportivo e acadêmico - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
Filha de Aída, a medalhista olímpica Valeska dos Santos Menezes participou da audiência pública da CEsp - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
Filha de Aída, a medalhista olímpica Valeska dos Santos Menezes participou da audiência pública da CEsp - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
Reunião contou com o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, Wlamir Motta Campos, e representantes das pastas dos Esportes e das Mulheres - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
Reunião contou com o presidente da Confederação Brasileira de Atletismo, Wlamir Motta Campos, e representantes das pastas dos Esportes e das Mulheres - Foto: Saulo Cruz/Agência Senado
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