A três dias da entrada em vigor da tarifa de importação de 50% a ser imposta pelo governo dos Estados Unidos aos produtos brasileiros, a missão oficial do Senado reúne-se nesta terça-feira (29) com parlamentares norte-americanos no Capitólio, em Washington D.C., a capital dos EUA. Os senadores brasileiros querem estabelecer diálogos e demonstrar as perdas bilaterais com a imposição do novo percentual tarifário.
Eles esperam apoio dos parlamentares do Partido Democrata e também de integrantes do Partido Republicano, o mesmo do presidente norte-americano Donald Trump, para demonstrar a posição institucional do Brasil e as perdas bilaterais que serão impostas às duas nações.
Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado e coordenador da missão, o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) disse que “essa missão é o primeiro passo de uma reaproximação institucional entre os parlamentos do Brasil e dos Estados Unidos”.
— A gente sabe que não é aqui que vamos resolver o problema das tarifas, mas viemos mostrar que o Senado brasileiro está disposto a abrir o diálogo e construir pontes — afirmou, afirmando também que a comitiva pretende demonstrar aos parlamentares estadunidenses que a sobretarifa levará a uma situação de “perde-perde”.
Um dos parlamentares visitados pela comitiva nesta manhã foi o senador democrata Martin Heinrich, do Novo México, estado americano que importa pelo menos dez produtos do Brasil. Os senadores brasileiros querem apresentar as implicações da medida tarifária nos estados representados pelos congressistas norte-americanos.
— Nós também vamos entregar para eles um convite, por meio de uma carta, para que eles possam ir ao Brasil conhecer a realidade que nós estamos mostrando.
Na tarde de segunda-feira (27), os senadores estiveram reunidos com membros da Câmara Americana de Comércio, para encontro com lideranças empresariais e representantes do Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos. A missão brasileira articulou apoio a uma manifestação conjunta da Câmara Americana de Comércio para pedir ao governo dos EUA o adiamento da tarifa de 50%.
— Não viemos com bandeira ideológica, viemos com dados e responsabilidade. O ‘não’ nós já temos, viemos correr atrás do ‘sim’ — disse Nelsinho Trad, após encontro com executivos da Cargill, ExxonMobil, Johnson & Johnson e Caterpillar, entre outras empresas.
Completam a missão oficial do Senado os senadores Carlos Viana (Podemos-MG), Jacques Wagner (PT-BA), Rogério Carvalho (PT-SE), Teresa Cristina (PP-MS), Esperidião Amin (PP-SC), Astronauta Marcos Pontes (PL-SP) e Fernando Farias (MDB-AL).
No dia 9 de julho, em carta enviada por meio de uma rede social, ao governo brasileiro, o presidente dos EUA Donald Trump anunciou que a imposição de tarifas sobre as exportações brasileiras, no percentual de 50%, se dará a partir de 1º de agosto, alegando uma suposta perseguição judicial do Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-presidente Jair Bolsonaro, réu em processos judiciais por tentativa de golpe de Estado.
Consultor legislativo do Senado do núcleo de Economia, área de Agricultura, Henrique Salles Pinto reforça que o tarifaço do Trump tem muito mais um cunho político e geopolítico do que propriamente econômico-comercial.
— O que me preocupa nesse contexto inteiro é que, progressivamente, o presidente Trump já sabendo das consequências socioeconômicas do tarifaço para a sua população, já está caminhando para alguns processos de negociação para reduzir as tarifas que ele impôs a parceiros estratégicos. Anunciou o nível tarifário em torno de 15% para a União Europeia, está em perspectiva de negociação com a China para reduzir as tarifas aos exportadores chineses. E o meu medo é o que Brasil fique sozinho num nível de tarifa inviável, que acaba sendo um embargo econômico às exportações brasileiras. Esse é um fator que causa preocupação e que o governo brasileiro já está ciente e tem tentado negociar, mas que pode trazer para a economia brasileira muitas dificuldades ao longo das próximas semanas e meses.
Os impactos do tarifaço na economia brasileira tendem a ser mais significativos na pauta de exportação brasileira de produtos de valor agregado, lembra o consultor. Se por um lado, em relação à China, principal parceiro comercial brasileiro, a pauta de exportação tem baixo valor agregado, com commodities e minérios com pouco beneficiamento em território nacional, no caso das exportações para os Estados Unidos o valor pago pelos bens industrializados é bem mais significativo.
— A gente exporta principalmente aviões, máquinas e equipamentos. Quando falamos do agronegócio, já há maior valor agregado na exportação, como o suco de laranja e outros beneficiados em território nacional — expôs o consultor.
Salles Pinto explicou ainda que em termos absolutos de quantidade e valor exportado, o eixo São Paulo-Rio de Janeiro-Minas Gerais será o mais afetado.
A Embraer, que fica em São José dos Campos, lembra o consultor, tende a ser muito impactada. No Rio, de onde sai grande exportação de combustíveis para os Estados Unidos, e em Minas Gerais, grande exportador de cafés e chás, os impactos também serão fortemente sentidos.
— Mas agora quando falamos dos estados que mais dependem [percentualmente] na sua pauta de exportação do mercado estadunidense, aí o perfil é um pouco diferente. Falamos do Ceará, de Sergipe e do Espírito Santo. Então, a situação tende a ser muito crítica nesses estados, sobretudo quando falamos, no caso de Sergipe, do suco de laranja. Com o tarifaço de 50%, vamos ter literalmente uma situação de embargo. Já se inviabiliza o comércio — alerta o consultor.
Quanto às perdas americanas, Salles Pinto enfatiza que é preciso entender que esse tarifaço não é um fato isolado, mas está dentro de um conjunto de tarifas elevadas que têm sido impostas pelos Estados Unidos a também outros parceiros comerciais, como China, Coreia do Sul, Japão e União Europeia.
— O resultado tem sido o aumento dos preços no mercado americano, já sentidos pela população do país e que tende, caso não se reverta esse processo de tarifaço — em perspectiva global e não apenas com o Brasil — a ser até acelerado. A consequência para a população americana são preços de cestas de consumo de bens e serviços mais elevados, com poder de compra que tende a ser estrangulado.
Por outro lado, para se manter minimamente sobre controle o processo inflacionário norte-americano diante desses preços elevados, o Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) tende a manter as taxas de juros naquele país em níveis mais elevados do que a média histórica, o que acaba trazendo consequências inclusive para o investimento local, segundo Salles Pinto.
— Para o empresário, para o investidor alocar recursos na economia, na perspectiva do investimento, ele precisa, dentre outros fatores, ter taxas de juros acessíveis para empréstimo. Se as taxas de juros estão num nível mais alto do que o normal e com tendência de se elevar ainda mais, o que pode acontecer é que esses investidores tendem a alocar menos recursos no investimento, que é um dos fatores importantes para o crescimento econômico de qualquer país.
Tudo isso, completa o consultor legislativo, pode ainda contribuir para o aumento do desemprego nos Estados Unidos.
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