Domingo, 23 de Fevereiro de 2025
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Imperatriz Leopoldinense mostrará viagem de Oxalá ao reino de Xangô

Carnavalesco diz que é seu primeiro enredo mergulhado na estética afro

23/02/2025 às 10h41
Por: Redação Fonte: Agência Brasil
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Se depender do envolvimento que os componentes da Imperatriz Leopoldinense vêm demonstrando com o enredo deste ano, a escola vai para a Marquês de Sapucaí com muita empolgação. Havia quase 50 anos que a escola não se apresentava com um tema afro e este era uma anseio da comunidade, plenamente atendido pelo carnavalesco Leandro Vieira, que criou o enredo Ómi Tútu ao Olúfon - Água Fresca para o Senhor de Ifón .

“Na verdade, tem quase 50 anos que a Imperatriz não faz isso, mas talvez há 50 anos a Imperatriz fosse desejosa disso. Os componentes estão felicíssimos, cantando, porque a escola de samba tem uma ligação muito forte com as matrizes afro. Está todo mundo mergulhado em um ambiente comum para uma escola suburbana, da periferia, formada, quase na exclusividade, por homens e mulheres pretos”, disse Leandro Vieira à Agência Brasil .

No desfile, a Verde, Branco e Ouro, de Ramos, zona norte do Rio, vai mostrar a viagem de Oxalá ao Reino de Xangô. “É a primeira vez que eu realizo um desfile mergulhado na estética afro. Isso já imprime um certo aspecto, uma certa visualidade que contribui. Como o carnaval, o desfile de uma escola de samba é uma atividade audiovisual. É muito importante que a visualidade esteja condicionada ao som e que o som esteja condicionado à visualidade. Quem olhar a Imperatriz e quem ouvir a Imperatriz vai encontrar áudio e visual de mãos dadas”, disse Leandro.

Na parte da sonoridade, também havia uma vontade grande de ter um enredo como este, que tem uma questão musical muito importante." Um enredo deste tipo guarda também muita musicalidade. Era um pedido do mestre de bateria, um pedido do cantor, que a Imperatriz estivesse mergulhada em um enredo de sonoridade afro. Isso foi uma vontade de atender também os desejos das pessoas que trabalham comigo. Acho que escola de samba é time, e é bom quando o time todo é contemplado com a possibilidade de acerto”, afirmou o carnavalesco.

A aposta para conquistar o título do carnaval de 2025 é o envolvimento da comunidade. “Minha ideia é seguir o trabalho que tem sido feito, o investimento do poder da comunidade da Imperatriz, no canto, na dança e na evolução. A minha parte de visualidade é uma parte que quer ser bonita, grandiosa, mas o meu principal trabalho é primeiro a trabalhar esteticamente para estar à altura do canto, da dança e da evolução da Imperatriz. Segundo, construir uma estética que não prejudique nem o canto nem a dança da Imperatriz”, explicou.

Setores

O desfile da Imperatriz vai começar justamente com a partida de Oxalá para a visita a Xangô.

“Como o enredo da Imperatriz é debruçado sobre um Itã [relatos míticos da cultura Iorubá], que fala da vontade de Oxalá de visitar Xangô, eu começo com um branco que é a saída de Oxalá do seu reino de Ifón. Tem os antecedentes da viagem e, no meio disso, tem os percalços da viagem [quando se encontra com Exu sem entregar os agrados recomendados]. Na sequência, o banho de Oxalá encerra o Itã. Encerrando o desfile como um todo, tem a cerimônia das águas de Oxalá. que é o resultado do Itã”, detalhou Leandro.

Quesito importante

A comissão de frente é um quesito importante e muito disputado entre as escolas para chegar ao campeonato, e a Imperatriz conta com um premiado. Desde 2020, o coreógrafo Patrick Carvalho, tem conquistado dos jurados notas 10, tanto no Grupo Especial como na Série Ouro, o que se costuma chamar popularmente de ‘gabaritar o quesito’.

Este ano, a busca pelas notas máximas para ajudar a Verde, Branco e Ouro a conquistar novamente um título começou há um ano com as pesquisas de Patrick para chegar à conclusão do caminho que deveria seguir. Os bailarinos artistas que vivem da dança, que integram a comissão, estão trabalhando há quatro meses, quando fizeram a audição para escolha do elenco. “Comigo é o ano inteiro: assim que sai o enredo, a gente já começa a trabalhar muito forte”, disse Patrick à Agência Brasil .

O coreógrafo não enfrentou dificuldades para desenvolver o seu trabalho, “Não estou enfrentando desafios porque é um enredo muito direto, é muito ok , muito simples. Na verdade, a maior dificuldade é transformar o simples no genial, porque é muito difícil conseguir fazer o simples ser genial, porque na verdade o mais bonito é o simples. É muita controvérsia, tipo, precisa ser simples, mas precisa ser genial. Para ser genial, você não pode sair do simples, porque você perde a mão, entendeu? Então essa briga é comigo mesmo.”

Patrick Carvalho reconheceu que a cultura preta marca o enredo forte, mas foi possível elaborar a coreografia para surpreender o público. “Este ano vou trabalhar com uma coisa [com] que nunca trabalhei e que é difícil de trabalhar. Estou apostando todas as fichas nesse efeito que vou levar para a avenida, para encantar a avenida. É aquela coisa de se superar, de entregar à Imperatriz o que ela merece e precisa ter de grandiosidade e com simplicidade de entrar e arrebatar a avenida.”

“Até antes desse enredo, fui muito de escutar músicas de Oxalá, porque me traz uma paz e uma emoção muito grandes. É um marco calmo que é muito forte. Oxalá é o tempo inteiro nesse lugar em que a caminhada é devagar, mas é muito forte. As músicas de Oxalá sempre me inspiraram muito, e agora cai no meu colo um enredo sobre Oxalá. Eu vou deitar e rolar”, deu pistas do que pretende mostrar na avenida.

Neste carnaval, Patrick está trabalhando com um elenco todo renovado. “Tirei todo mundo que trabalhou comigo e que vinha do Salgueiro e das outras escolas. Tirei real. Então, este ano é um elenco completamente novo com que nunca trabalhei”, disse, informando que serão sete homens e sete mulheres e um pivô.

Ao ser questionado se o pivô é Oxalá foi sucinto na resposta. “É”.

Samba-enredo

Para Leandro Vieira, nos desfiles, o samba-enredo é 95% do trabalho e os outros 5% são perfumaria. “O samba da gente está completamente envolvido com a contação disso. É um grande samba que a escola abraçou e canta a plenos pulmões.”.

O intérprete Pitty de Menezes concordou e disse que está bem confortável com o samba escolhido, ainda mais com o retorno que a comunidade está dando. “É muito gostoso ver a comunidade feliz. É um reencontro. A comunidade queria muito um enredo afro e um samba que fosse afro também. A comunidade está cantando muito, está pulsando. A comunidade está com muita vontade”, disse, animado, à Agência Brasil .

Pitty adiantou que o samba permite fazer umas bossas interessantes com a bateria e com a parte musical do carro de som. “Quando junta todos esses ingredientes está dando algo maravilhoso. O pessoal está cantando demais. Não só a comunidade da escola, mas o carnaval, pessoas de outras escolas cantando”, comentou o intérprete, acrescentando que a escola fez um ensaio com a Beija-Flor na Estrada da Mirandela, local em que a agremiação de Nilópolis costuma se apresentar e fazer ensaios de rua.

“A gente viu todo mundo da Beija-Flor cantando nosso samba. É maravilhoso. A gente está com uma expectativa muito grande para este carnaval, com o enredo maravilhoso do Leandro Vieira, que dispensa comentários. Para mim, é um dos maiores carnavalescos, e trabalhar com ele é uma honra. O enredo dele nos permitiu ter um samba como esse. Um samba aguerrido, um samba de fácil entendimento com o enredo e que está sendo muito cantado. Estou bem esperançoso de ganhar mais uma estrela e levar para Ramos o grande título com que sonhamos”, disse, confiante.

A Imperatriz Leopoldinense soma 11 títulos de campeã nos três diferentes grupos de escolas de samba do carnaval do Rio de Janeiro. São nove títulos no Grupo Especial (1980, 1981, 1989, 1994, 1995, 1999, 2000, 2001 e 2023); um na Série Ouro, em 2020, quando voltou a desfilar no Grupo Especial; e um na que seria hoje a Série Prata (terceira divisão), em 1961.

Bateria

O intérprete Pitty de Menezes elogiou ainda a bateria da escola. “É maravilhosa. O mestre Lolo [que comanda a bateria] é um irmão que o samba me deu, foi um encontro. Foi especial demais encontrar o Lolo e fazer parte desse time."

Ele acrescentou que desde que chegou à escola, foram feitos os samba do Lampião, o do Xaxado e outros. "A gente fez com a Cigana, um pagodeado ali e, este ano, está trazendo o toque dos orixás. Cada orixá, o toque de Xangô, o toque de Oxalá, o toque de Exu. Então, o samba nos permite fazer esses toques e levar para a Sapucaí o conhecimento dos toques dos orixás. Vai ser muito especial”, afirmou, ao comentar o bom desempenho da bateria em enredos anteriores.

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