No cenário educacional brasileiro, visitar um museu ainda é um privilégio distante para milhares de crianças. No Rio de Janeiro, porém, uma iniciativa tem mudado essa realidade de forma consistente. O Experimente Cultura, projeto financiado pela Lei de Incentivo à Cultura do Município do Rio de Janeiro e patrocinado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, pela Secretaria Municipal de Cultura e pela Assim Saúde, chegará ao final de 2025 com um marco expressivo: 40 mil crianças atendidas desde sua criação. Um feito que vai muito além dos números e revela o impacto social da democratização do acesso aos espaços culturais.
Mais do que levar estudantes de escolas públicas a museus, o Experimente Cultura desenvolve uma abordagem pedagógica integrada, que transforma cada visita em uma jornada de descoberta. A experiência começa na escola, se intensifica durante o trajeto e ganha força dentro do museu, onde o conteúdo, antes abstrato, passa a fazer sentido na prática.
Aprendizagem que começa na sala de aula Antes de embarcarem no ônibus, as crianças são apresentadas aos temas, artistas, objetos e narrativas que encontrarão no museu. Os educadores do projeto realizam um processo de contextualização prévia, que pode incluir vídeos, imagens, histórias, dinâmicas e conversas sobre patrimônio, memória e diversidade cultural. Esse preparo desperta curiosidade e cria uma base de entendimento que torna a visita muito mais produtiva.
Segundo os educadores do projeto, criar repertório é um gesto pedagógico essencial, pois permite que crianças de contextos vulneráveis sintam que aquele espaço — muitas vezes visto como distante e elitizado — também lhes pertence. Esse movimento inicial favorece não apenas uma visita proveitosa, mas uma experiência de pertencimento.
A professora Aleteia Duarte, da Escola Municipal Mário Paulo de Brito, no Irajá, resume bem esse impacto ao afirmar: "Quando as crianças chegam ao museu já compreendendo o que vão encontrar, tudo ganha outro sentido. Elas se reconhecem ali, participam mais, fazem perguntas — é lindo de ver. O Experimente Cultura não leva só os alunos para o museu; leva oportunidades que mudam a forma de experienciar a cultura."
O trajeto como espaço de mediação cultural Durante o percurso de ônibus, o aprendizado se amplia. Os educadores costumam apresentar pontos culturais, paisagens históricas, monumentos e curiosidades sobre a cidade. Para muitos alunos, é a primeira vez que observam seu próprio território com um olhar mais atento e interpretativo, entendendo que a cultura está espalhada por toda parte, e não apenas dentro dos museus.
"Esse deslocamento torna-se parte ativa da experiência, pois transforma a cidade em sala de aula e ajuda o estudante a reconhecer a riqueza cultural que existe ao seu redor", afirma Renata Prado, curadora e idealizadora do projeto.
Chegada ao museu: tudo faz sentido Quando entram no museu, os alunos já chegam conectados ao conteúdo. Eles reconhecem temas trabalhados em sala, identificam elementos vistos no trajeto e compreendem, com mais profundidade, o que os educadores do espaço apresentam.
Para muitas crianças, esse é o primeiro contato com acervos artísticos, históricos ou científicos. Esse momento inicial é determinante, pois forma novos imaginários e pode despertar futuras possibilidades profissionais, mostrando que os museus são lugares vivos, acessíveis e repletos de experiências significativas.
Cultura como direito, não como privilégio A relevância do Experimente Cultura se confirma ao atender majoritariamente crianças em situação de vulnerabilidade, muitas delas moradoras de áreas periféricas do Rio de Janeiro. Para esses estudantes, estar em um museu representa mais do que aprender: representa ser visto, reconhecido e incluído.
O projeto evidencia que a cultura se torna verdadeiramente democrática quando alcança quem mais precisa, com cuidado, intencionalidade pedagógica e sensibilidade social.
Um legado para o futuro Ao completar 40 mil participantes, o Experimente Cultura reafirma que levar estudantes a museus é uma estratégia pedagógica poderosa. Para a equipe do projeto, esse trabalho ajuda a construir vínculos com a cidade, estimular o pensamento crítico, promover autoestima e ampliar horizontes de forma duradoura. Cada visita representa uma semente plantada para formar cidadãos mais conscientes, sensíveis e conectados à história e à cultura do país.
Financiado por políticas públicas de fomento e pelo compromisso de seus patrocinadores — Prefeitura do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura e Assim Saúde —, o projeto demonstra que, quando educação e cultura caminham juntas, os resultados alcançam dimensões que vão muito além da sala de aula.
O Experimente Cultura segue, assim, fortalecendo o acesso à cultura como um direito fundamental e mostrando, a cada nova visita, que a transformação começa muito antes da porta do museu.